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Mostrando postagens de 2008

Depois dos dias

Pronto, desencarnei... pobres mortais... tantas diferenças, tão iguais... temem tanto e um quanto mais... pobres e ricos mortais... têm um livro para escrever, mas não atinam com a pena... recitam seus direitos com a convicção duma novena, conhecem bem suas preces... pedem muito, pouco agradecem... porém, todos, sem exceção, esquecem, que tudo o que nasce, perece... seja então, estes versos, uma prece, que há muito estava guardada, pois do plano da matéria, o ser levará consigo, seus atos, seus passos, e mais nada. Cezar Lopes.

Mensagem para o futuro

Meus verdadeiros irmãos são os loucos, os poetas os presistenes e os desvalidos os demais já estão vencidos pela mesmice da vida Onde a verdade parida, morre de fome e de sede, onde a ganacia humana, que campeia entre os normais julga e condena aos iguais a uma vida sem vida Para mim, é outra a lida trabalho com o pensamento sou livre tal qual o vento com direitos de Senhor e ainda que me espante o horror dessas vidas sem sentido sou forçado a dar ouvidos a quem tem o que dizer Assim, num parecer de pensamento e de esforço deixo, aos que virão este esboço que define o fraterno Ser humano não usa terno quando nasce só quando morre Então, dispamo-nos das vaidades das aparências profanas e a elas demos o fim que cabe a toda a matéria Deixemos aos corvos as carnes e aos espíritos o ser já que depois de morrer o poder e o ter não importam Basta ver que os que confortam a tantos seres na terra já batalharam nas guerras até entenderem seu erro A vida ensina o enredo que o tempo mostra aos mor

MINHA CRIANÇA

Minha criança saiu a passear, visitar amiguinhos. Me pediu moedinhas - uns tostões, duzentos reis para fazer compras... compras de criança. Adulto sempre diz – não! Faz mal, tira a fome, não alimenta. Minha criança birrenta insistiu, choramingou, fez beicinho. Disse que gosta de mim. Dizer não - hum! Não consegui. Consenti! Saiu pulando, cantando, feliz, pés descalços, cabelos ao vento. Subiu na pitangueira (cuidado! Por um triz você quase caiu!) Pulou muros (psiu! Para roubar goiabas no vizinho) Brincou nas ondas do mar. Jogou bolinha de gude com a molecada, soltou pandorga, entrou na pelada, no bate-bola do Zé, fechou o gol, pulou amarelinha, lenço-atrás, andou de patinete. Comeu melancia, pitomba, manga, sorvete de mangaba. A roupa, os braços, orelhas, o rosto, tudo lambuzado, açucarado – da ponta do nariz ao dedão do pé! (ui! Doeu a picada do marimbondo!) Foi à matinê ver filme de cow-boy. Cansada, voltou para casa comendo algodão-doce não se esquecendo de, antes d

Homenagem ao homem livre

Eduardo chegou em casa cabisbaixo. A mãe estranhou o comportamento do filho, mas preferiu não o atormentar com perguntas. Contudo, seu abatimento era evidente. Logo ele que adorava a escola! Ávido de novos conhecimentos, era de seu costume chegar em casa alegre e ansioso para comentar sobre o que aprendera. Contudo, o jovem, sempre sorridente e afável, chegou em casa macambúzio. Olhos voltados para o chão. Não disse nada, recusou o lanche e foi direto para o quarto, recluso, em absoluto silêncio. Assim que o pai chegou em casa, a mãe, zelosa, pediu sua intervenção para apurar o que estava havendo. Inteirado dos fatos desfez-se da pasta, afrouxou a gravata e foi ao quarto do filho para descobrir quais demônios assombravam e distorciam sua face imberbe. - E então, meu filho, qual o mal que te aflige? - Nada! - Seja sincero, jamais tivemos segredos. Pode falar! O que aconteceu para você estar assim, tão triste? O filho, finalmente, encarou o pai. Nos olhos de Eduardo não havia tristeza, m

D E S C A N S O I N S U L T U O S O

Quero morrer sadia, sã após um dia batalhando para viver sobreviver envolver, se compromissar com a vida Não quero morrer doente, nem de repente, acidente, muito menos! Programo-me para "aquela" morte: - vou dormir feliz, tranqüila erguendo castelos de sonhos ser imperatriz dos meus desejos... Dormir de barriga pra cima, roncar em posição confortante voltar à vida fetal uterina Sonhar com melancia vermelha, doce, matando a sede e a fome canina de carinho Receiar que almas penadas, esquecidas, abandonadas venham meus pés puxar Sentir perfume de morto, de vela apagada de jasmim-do-cabo... Dias depois quando de mim derem falta estarei dormindo de boca aberta (um olho aberto, outro fechado) lívida, extinta - Ó! Descansou!... Ione Jaeger Ribeirão Preto/SP - Novembro de 1998

CONFITENTE

Sou flor bruta, flor do mato, flor agreste, cresci na simplicidade do inço, sem finesse, sem matiz, sem beleza na corola, o espelho diz! Para sentir meu aroma, muito amor, muito amor é preciso, (é um odor escondido no ser). Sou mulher de carne, calor, pulso e coração. Me entrego com amor, muito mel, muito afã no viver da mineral criatura. Sou ardente, apaixonada no minuto duradouro da eternidade quando estou nos braços teus. Sou sincera, autêntica, verdadeira, sentindo tua aura, mas desligo-me no seguinte momento da vertente da paixão. A razão me censura: Dar ouvidos aos gritos da alma? Não escute essa alma que sangra descarnando vivências de jamais ter sido amada. Coloco sentimentos na vanguarda defensiva, estilhaçando na sapa do peito minas enterradas: as falácias do amor! Confesso: sou insegura, receosa das tuas emoções, Não permito... e dói! Não permito enraizar no coração um espaço compassivo, comprazente à voz de Eros. Toda vez que atendi recebi a unilateralidade da sentença: Só

O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA

Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: "Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável! Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O talento assusta". Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava numa carreira difícil. Isso, na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil. Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa: "Há tantos burros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência". A maior parte das pessoas

Das mães

Mãe...São três letras apenas As desse nome bendito: Também o céu tem três letras E nelas cabe o infinito Para louvar a nossa mãe, Todo bem que se disser Nunca há de ser tão grande Como o bem que ela nos quer Palavra tão pequenina, Bem sabem os lábios meus Que és do tamanho do CÉU E apenas menor que Deus! Mário Quintana

Que Será de Nossos Fantasmas?

Noutros tempos a sociedade era neurótica, hoje é paranóica. De quem será a culpa? [1] Parece-me que a culpa é dos arquitetos. Sim, dos arquitetos. Pois foram eles que tiraram, das casas, os porões e os sótãos. Sem sótãos e sem porões aonde diabos irão habitar os nossos fantasmas? De família ou adquiridos ao longo do caminho, aonde irão se encontrar para bater aquele papo de fim de noite com seus velhos, e defuntos, amigos? E as nossas crianças? Crescerão sem o sibilar dos ventos naquelas velhas janelas de grandes sótãos onde dormiam as corujas, os morcegos, e os fantasmas que, à noite, faziam das suas, divertindo-se em despertar o medo, latente em todo ser humano desde a idade da razão, com relação à sua transitoriedade neste plano. Se isso já soa terrível, que dizer, então, daqueles fantasmas (underground) que habitavam os porões das casas antigas? A eles, mais que aos fantasmas dos sótãos, não interessa ficarem expostos ao dia em garagens cheirando a óleo e graxa ou em quartinhos ap

Eleição, Hora De Acabar Com o Mal Pela Raiz

Sabe o quanto dói uma dor de dente? Sabe mesmo? A geração atual não conhece este problema. Falo, evidentemente, das classes D para cima. A classe E que fique no limbo do Esquecimento, como sua sigla bem o sugere. E quem não gostar desta afirmação, ou achá-la inconveniente, dê uma olhada nas páginas policiais. Nas vilas, no Natal, tem pivete apontando arma para o Papai Noel. Estes já nascem com a dentadura condenada. Ali a dor é estatutária. Não pode ser removida nem por decreto presidencial mas, se por algum meio for excluída, voltará através de recurso. Contudo, mesmo que não volte, continuará no plano psicológico donde não sairá jamais. A favor destes exilados da sociedade resta o consolo de que uma dor estatutária, torna-se ineficiente, deixando, depois de um certo tempo, de surtir efeito no corpo. Mas aí seus sinais já estão calcados nos indivíduos. Pois que a dor tira a concentração, incapacitando de tal forma que torna impossível ao raciocínio entender a realidade. Qu

Menos Um Marginal No Mundo

“O nome é Diogo. Idade? Quinze. Por que caí [1] ? 1-5-7 [2] . Meu pai? Morreu antes de eu nascê. A mãe conta que ele tava de bobeira e um policial encheu ele de bala. Disseram que ele tinha uma arma. Mas a mãe diz que ele nunca teve arma. Ele tinha 16. A mãe? É mulher da vida”. Encostado junto ao meio fio, Beto aperta um baseado. Viver estava cada vez mais complicado. A namorada acabara de comunicá-lo, estava grávida. Aí sim, refletia enquanto acendia o cigarro, já era difícil ajudá a mãe... Imagina, agora com um filho! Que estranho! Acho que vô me acostumá com isso. A gente se acostuma com tanta coisa... A gente se acostumou co’a morte do pai e do Chico. Morre um aqui... Nasce um ali... A gente se acostuma. Mas o Chico foi doído. A mãe ainda sente a falta dele. Ela não fala, mas fica a tarde intera na frete da geladera, olhando aquela foto onde a gente era piá, brincando na rua. Também, aquele burro tinha jeito pra se metê em briga. Um dia ia dá nisso. A mãe já devia sabê.

O cego e o poeta

Em uma rua de Paris havia um cego, com uma placa dizendo “me ajude, sou cego” e uma caneca de esmolas na mão, contudo, poucos o ajudavam. Certo dia um poeta passou por ele sem consultá-lo trocou os dizeres da placa. O cego passou a receber muita ajuda. Curioso, perguntou àquele que viera buscá-lo o que havia mudado. Este lhe respondeu: não sei, mas na sua placa está escrito: “É primavera em Paris e eu não posso ver as Flores”. Autor desconhecido.

O nascimento de uma estrela

Caro André: Claro que o tempo reconstrói nossa memória. Por isso mesmo faço questão de reescrever esse texto que reflete o teu nascimento. Pois bem, foi assim: Naquele dia 23 de junho de 1998, perto da hora do café, sua mãe me disse: - Ai, rompeu a bolsa! Olhei em volta refletindo: -Mas não tem nenhuma bolsa por aqui! Fiquei intrigado, procurando ao meu redor uma bolsa que pudesse ter-se rompido. Imaginei que ela tivesse lido isso no jornal, mas logo concluí que uma quebra violenta na bolsa de valores seria manchete e eu já teria lido sobre o assunto. Nesse ínterim, ela interrompe meu raciocínio gritando: - A bolsa rompeu, chama um táxi! Convém ressaltar que eu tinha uma parati, na época, mas não estava mais em condições de dirigir depois da terceira cabeçada tentando passar pela parede rumo ao telefone (fica complicado caminhar e pensar na bolsa de valores, na porta, no táxi, no telefone e no nascimento do primeiro filho, tudo ao mesmo tempo). A porta, pude constatar horas depois ao v

Das palavras

Tenho ouvido muitas discussões sobre a política gaúcha que está envolta em corrupção, intrigas políticas e fofocas. Chama-me a atenção que as pessoas dêem mais valor para as palavras proferidas em situações diversas em detrimento da história dos indivíduos envolvidos. Não me questiono se é verdade ou se apenas parece verdade. Isso é irrelevante para o passado e cabe à justiça decidir sobre o assunto. O que me faz estarrecido é a incapacidade das pessoas, em todas as esferas, em perceber que o sentido de uma frase, quando contada por terceiros pode mudar completamente. Quando alguém diz que sou um bobalhão, é importante nos atermos, não à frase, propriamente dita, mas ao significado explícito na forma como essas palavras são ditas. Digo isso por que já passei, eu mesmo, por situação semelhante, quando então, pessoa amiga, veio me trazer as palavras de outro amigo, ditas a meu respeito. De pronto, reduzi aquela amizade a simples contato social. Um amigo de verdade não faz fof

A magia do amor

Quando a magia do amor chegar, nada pode interrompe-la. (André Luiz 9 anos)

Faca na caveira

Li que o BOPE do RJ vai começar a usar armas não letais, tais quais, spray de pimenta e balas de borracha. Não sei quem ganha com isso e nem quantas vidas isso vai custar. Mas duvido que homens da envergadura dos policiais do BOPE vão se dobrar às falcatruas do poder simplesmente para atender às covardias intitucionais de uma nação que se submete às pressões, sem nexo, de instituições que defendem os direitos humanos de quem não é humano, na perfeita acepção da palavra. Fico imaginando policiais treinados para invadir favelas, usando spray de pimenta e balas de borracha contra pistolas e fuzis... que besteira! por Deus!

A família e a sociedade humana.

De todos os momentos que tenho para lembrar como bons, a grande maioria está ligada à família. A célula mãe da sociedade. Uma das coisas boas das famílias é que, ali, todos os papéis são bem definidos. O pai, a mãe, os filhos. Na condição de filho, coube a mim o papel de questionar. Gostei tanto que pratico isso até hoje. Na condição de pai, coube-me o dever de educar. Neste caso a responsabilidade se tornou o mote. Ao invés de questionar, tenho de esclarecer, ensinar. Claro que até ensinando me questiono. Ainda assim, todos os valores que recebi de casa (a verdade, a honestidade, a responsabilidade, o respeito aos outros, o respeito às opiniões contrárias, a honra, a palavra e o bom senso) estão sendo, paulatinamente, transferidos para o meu filho, que também questiona, mas, dentro das condições de seu entendimento, comporta-se de acordo com os ensinamentos que lhe passo. O fato é que, apesar do advento da informação instantânea, da degradação moral que os meios de comunicação impõe a

Francelino Levou Choque

No ano da graça de mil novecentos e setenta e dois nasceu Francelino Roque Cruz, filho único do Sr. Edvaldo Cruz e dona Lucimeidi Roque Cruz. Contam os mais próximos que já nos primeiros ensaios de engatinhar Francelino logo descobriu uma tomada e meteu o dedo. Foi seu primeiro choque e tomou gosto pela coisa. Assim, mesmo ante as medidas salutares de seus pais tampando as tomadas com protetores, o menino logo descobriu como removê-los e ainda como colocá-los de volta, para não levantar suspeitas. Claro que sua mãe percebia os cabelinhos arrepiados, mas, por mais que se esforçasse em descobrir onde o menino tomara choque jamais lograra êxito. Seu pai chegou a sentenciar, certa vez: esse menino puxou aos Cruz mesmo, gosta de tomar choque! Na escola Francelino procurava sentar sempre ao lado de uma tomada. Era chegar o dia de uma prova e pronto, lá estava o Francelino gemendo baixinho, com o dedo enfiado na tomada, dê-lhe tomar choque. Mirrado, se cor e sem graça,

O segredo

Larguei de mão a vontade de fazer melhor o mundo agora desejo apenas alguns instantes de silêncio Não culpo a ninguém por isso apenas, talvez, a minha consciência Desperto e sem paciência já não desenho quimeras dos desejos dessa terra apenas um me acompanha E é um segredo.

Amor e futuro...

Ok... para que não fique a impressão que sou pessimista, aí vai um som raro do Raul... quem quiser que copie, mas lembrem-se, "a vida é uma festa!"

Esperança

Esperança Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem - Ó delicioso vôo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: - Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: - O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... ESPERANZA Mario Quintana Allá bien en lo alto del décimo segundo piso del Año Vive una loca llamada Esperanza Y ella piensa que cuando todas las sirenas Todas las bocinas Todos los reco-recos toquen -¡Oh delicioso vuelo! Ella será encontrada milagrosamente incólume en la calzada, Otra vez niña... Y alrededor de ella indagará el pueblo: -¿Cómo es tu nombre, niñita de ojos verdes? Y ella les dirá (¡Hay que decirles todo de nuevo!) Ella les dirá bien despacio, para que no olviden: -Mi nombre es ES-PE-RAN-ZA.