Homenagem ao homem livre

Eduardo chegou em casa cabisbaixo. A mãe estranhou o comportamento do filho, mas preferiu não o atormentar com perguntas. Contudo, seu abatimento era evidente. Logo ele que adorava a escola! Ávido de novos conhecimentos, era de seu costume chegar em casa alegre e ansioso para comentar sobre o que aprendera. Contudo, o jovem, sempre sorridente e afável, chegou em casa macambúzio. Olhos voltados para o chão. Não disse nada, recusou o lanche e foi direto para o quarto, recluso, em absoluto silêncio.
Assim que o pai chegou em casa, a mãe, zelosa, pediu sua intervenção para apurar o que estava havendo. Inteirado dos fatos desfez-se da pasta, afrouxou a gravata e foi ao quarto do filho para descobrir quais demônios assombravam e distorciam sua face imberbe.
- E então, meu filho, qual o mal que te aflige?
- Nada!
- Seja sincero, jamais tivemos segredos. Pode falar! O que aconteceu para você estar assim, tão triste?
O filho, finalmente, encarou o pai. Nos olhos de Eduardo não havia tristeza, mas dor, pelo que se tinha passado. Enfim, após alguns segundos escolhendo as palavras o rapaz falou:
- Fiz um trabalho para a aula de literatura. Trabalhei a poesia em prosa. Escolhi uma forma simbólica de retratar as idéias nas quais acredito, e o mestre me disse que fui “relapso” e que “não estava zelando pela qualidade do trabalho”. Pai, ele não entendeu nada!
O pai refletiu sobre as palavras do filho e respondeu com a solenidade que a circunstância exigia:
- Eduardo, há muitos mestres. Porém, nem todos se formam com sua plena consciência. De fato, são justamente os menos capacitados que se encastelam, verdadeiramente, cercam-se por muralhas de regras e normas sem as quais não conseguem, sequer, tomar o café da manhã.
O que importa, Eduardo, é que você tenha a consciência de que fez o seu melhor. E jamais se deixe abalar pelas críticas daqueles que, incapazes de construir novos caminhos, querem te impor apenas os caminhos que suas percepções limitadas já encontraram prontos. Agora, se arrume para o jantar, disse o pai, beijando o filho e saindo em seguida, deixando Eduardo a sós para que meditasse sobre tais palavras.
Naquele dia, Eduardo descobriu que os mestres, ainda que dignos de respeito, são humanos e podem, sim, errar, posto que quando professam suas verdades, o fazem com base em suas capacidades, suas limitações, seus conceitos e preconceitos, de acordo com a doutrina em que acreditam como, de resto, o fazemos todos nós. Mas isso é outra história. Deixemos para depois do jantar.
Cezar Lopes

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