Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2011

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora N'alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja a ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! Raimundo Correia

A vila da viúva seca

- Nem uma lágrima, comentou seu João. - Nenhuma? Nenhuma mesmo? Quis saber o velho carpinteiro. - Nem uma, retornou seu João balançando a cabeça. E completou: a viúva não derramou nenhuma    lágrima sequer. A mulher é seca por dentro. Devagar como a cidade, a novidade foi se espalhando e crescendo. - Diz que até sorria, falou dona Maria, a lavadeira mais afamada do vilarejo. E também a única. - Quando levantaram o caixão viram ela fazer o sinal da cruz ao contrário. É coisa do demônio! Confidenciou o bêbado ao botequeiro. - Sabia que era bruxa. Falam que viram ela no cemitério depois do enterro, de noite. É feitiço, com certeza, esclareceu dona Flora, a primeira dama que seria, se a pequena vila fosse emancipada, abição que acalentava junto com todas as outras desmentidas pelo tempo que deixa rotos os sonhos pobres dos espíritos sem criatividade. - Dias antes de ele morrer diz que ela vendeu a alma dele pro capeta, retorquiu Nora, a vizinha da primeira dama, como se auto-intitul