Paty e Kzar em: A última fronteira (Aventura Final)
Foi uma notícia de última hora.
Um daqueles momentos que não se espera e não se deseja viver. A Paty subiu. Foi
para o andar de cima assim, sem aviso prévio.
-
Estou deveras compungido!
-
O André arranca os pentelhos, mas não demonstra que sofre!
-
Kzar, cada um sofre do seu jeito, guri!
-
Sei...
-
Bem estamos chegando, capela seis... É aqui...
-
Ih, olha a Paty lá, mortinha com cara de defunta!
Plaft!
-
Eeeii!
-
Olha o respeito moleque!
-
Como assim respeito? Sempre nos tratamos assim, vai mudar agora por quê? Só por
que ela morreu primeiro? Vocês viraram ateus agora?
-
O que queres dizer meu jovem?
-
Bah André, o Cezar demorar a entender vá lá, sempre teve uma faísca atrasada
mesmo, mas tu, Brutus? Mas, vamos lá, explicações sobre o óbvio: todo mundo
morre, a Paty foi na frente, mas todo mundo vai, então, ou acreditamos em outra
vida, e nesse caso ela está lá esperando por nós, ou não, e nesse caso, bem, aí
não faz diferença mesmo. Então, vou mudar meu jeito de tratar com ela por quê?
Tem uma amizade que nos define, morta ou não!
-
O que o jovem diz tem algum sentido Cezar!
-
Bem, é o fim dos tempos mesmo. A Paty subiu e o Kzar começa a fazer sentido!
Em
silêncio, os três se aproximam do esquife. André, sempre cavalheiresco
manifesta-se primeiro.
-
A jovem Paty partiu para junto do Senhor...
-
Azar o Dele...
Plaft!
-
Aaaai!
-
Um gênio intelectual e emocional. Capaz de resolver os problemas mais complexos
simplesmente orientando as pessoas!
- É... A Paty sempre foi uma manipuladora de
primeira!
Plaft!
- Uuuui!
- Poucas
pessoas conheci, nesta jornada pela vida, com sua capacidade de amar e com sua
alegria que, aliadas à sua inteligência fora do comum, perfilava-lhe um caráter
excepcional e fazia-a querida por todos! Vá em paz, querida Paty, em breve nos
encontraremos novamente.
O Cezar falou em seguida.
- Querida
amiga! Vou sentir saudades. Em ti, encontrei uma amiga para toda a vida, mas eu
tinha que ter partido primeiro. Essa aposta eu perdi. Ganhas-te mais uma. Mas
me aguarde. Quem ri por último...
- É por que
não entendeu a piada...
Plaft!
- Eita! Que foi agora?
- Me chamou de burro!
- Bem capaz! Jamais ofenderia os engenheiros de antanho!
- Antanho? Kzar, tu tem andado muito com o André. Agora, deixa eu completar o raciocínio...
- Paty, sentirei
falta dos teus conselhos e xingamentos. Tua fina ironia e tua sagacidade fazem
parte das melhores lembranças que guardo de ti. Mas, ficaste me devendo um
passeio naquela casinha no campo, com um piano de cauda onde Elis nos lembraria
que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Descanse em paz minha
amiga. Tenho certeza de que há um lugar especial reservado para ti no céu!
- Tem que ter!
Se colocarem a Paty junto com os demais em uma semana Jesus tá pedindo a bênção
e Deus tá limpando o céu com esfregão!
Plaft!
- Ai, ai, ai!
Pára com isso Cezar! Dói sabia? Ó, viu o que tu fez? Ligou o rádio receptor... Ó...
to recebendo uma ligação... Ssssshhhh.... Paty, é tu?
- Quem mais
seria moleque retardado? Tá vendo mais alguma pessoa morta por aqui?
- Ué, não sei,
podia ser interferência sabe... Uma linha cruzada da capela ao lado... O negócio de defuntamento tá
rendendo, isso aqui tá cheio hoje! Se é tu mesma fala cérebro!
- Af, eu
mereço. Célebro!
- É tu mesma ó
Grande Buda, nossa heroína! E aí Paty, como vai a vida depois da vida?
- Do mesmo
jeito que da outra vez que estivemos por aqui, uma pasmaceira.
- É mesmo, não
lembrava. Já tínhamos morrido uma vez. Foi
na aventura vinte e três, não foi?
- Foi. E tu
armou o maior barraco por aqui dizendo que Deus não era bom de matemática!
- He, He, He! Mas é verdade. Fizemos as contas, te lembra? Aquela história de
cento e quarenta e quatro mil selados é, no mínimo, uma sacanagem! Mas, diz aí,
tu já viu Jesus de novo?
- Vi. Mas acho
que ele se lembrou da gente. Anda me olhando meio de lado, parece que tá
esperando um pouco, para ver se tu não aparece!
- É, acho que desafiar Ele a transformar a água da caixa d'água do céu em vinho foi meio exagerado!
- Meio? Tu acha é? Foi o maior pileque coletivo da história celestial moleque!
- Tá, mas foi um pileque de primeira! Excelente safra! He, He, He! Mas pode dizer para Ele que não se preocupe, no tempo certo eu chego aí!
- É né. Mas
não tem pressa viu. Deixa eu aproveitar esse sossego por algum tempo.
- Ô Paty, é
assim que tu retribui meu afeto?
- Kzar, eu
gosto de ti, mas às vezes o teu afeto é tão bom como uma dor de dente! E diz pro Cezar parar com essa choradeira ou eu pessoalmente vou fazer lobby aqui com
o Todo Poderoso para ele ficar um bom tempo no purgatório!
- Ó Cezar,
recado pra ti, da Paty!
- O que ela
disse?
- Ué, mas tu
não acredita em comunicação com os mortos, por que quer saber?
Plaft!
- Ui... Ó,
desligou! Viu o que tu fez? Tchau Paty, nos vemos na próxima!
- Sugiro que
partamos. Já nos despedimos e, pelo modo como estão olhando para o Kzar a
palavra que está me ocorrendo neste momento é: linchamento.
Certo André.
Vamos embora! Até breve Paty. Vamos Kzar.
E assim, seguiram
os três, caminhando devagar pela longa estrada empoeirada da vida, sempre em
frente, até que seus vultos desapareceram ao longe deixando para trás apenas suas pegadas que, um dia, o tempo se encarregaria de apagar também!
Fim...
-
Repararam no tamanho do cortejo? Perguntou André.
-
Sim, disse o Cezar, foram acompanhá-la até o cemitério.
-
Tá certo. Por que, sabe como é né? Em se tratando da Paty, queriam ter certeza!
Plaft!
-
Aaai! Paraaa! Isso dóiiii...
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