Intentona Profética
Sobre as
fraquezas do homem que quando tem poder esquece Deus e quando está impotente,
socorre-se do Todo-Poderoso e sobre os profetas que avançam loucamente sobre os
crédulos, convencendo-os das mais estapafúrdias ideias, com, por exemplo, a do
fim do mundo.
É comum o que
vou escrever aqui, mas também é verdadeiro. Devido ao fato de tratar de assunto
controverso, peço que leiam desprovidos de preconceitos. Lembre-se que estou
falando do povo d’além-mar, assim fica mais fácil absorver o que vem a seguir.
Existem
diversos tipos de credo. Existem diversos tipos de fiéis. Mas aqui pretendo focar,
principalmente, no crente circunstancial, incidental.
Grande parte
da humanidade tem um credo de conveniência. Ou seja, quando perguntam na
escola: Religião? A resposta será, via de regra: Católica. Agora, para a
maioria esmagadora dessas pessoas essa é meramente uma resposta pré-definida,
algo que se aprendeu em casa para, no melhor dos casos, evitar aborrecimentos
ao se definirem como agnósticos ou mesmo ateus.
Bem, quanto
aos ateus, na sua grande maioria, são pessoas que podem passar de descrentes
convictos a crédulos fervorosos, bastando para isso que o infortúnio bata em
sua porta.
Assim, quando
tudo está no seu lugar, sem quaisquer percalços financeiros, com a saúde em
dia, enfim,
com a vida em ordem, essas pessoas se declaram assumidamente ateias.
Capazes mesmo de afirmar que não veem motivos para acreditar num ser superior
invisível e silencioso que se manifestou na elaboração da vida e depois segue
regendo a sua criação como um pastor cuidando do seu rebanho.
Alegam
frequentemente que esse ser, se existisse, teria mais a fazer do que vigiar os
homens, seres mortais de vida finita como tudo o que é vivo “por que tudo que é
vivo morre”.
Por outro
lado, basta uma crise financeira grave, ou mesmo um problema de saúde de
difícil solução e pronto, essas pessoas tão convictas de sua própria capacidade
de resolver seus problemas por si, começam, como as acrianças quando se sentem
em perigo, a buscar a proteção olhando para cima, procurando a proteção dos
pais (aliás, há quem afirme que esse comportamento infantil é a origem do
comportamento praticado pelo adulto que, quando se vê em perigo, simplesmente repete
o ato de infância). Nesses momentos difíceis, portanto, aquele que nem vendo
acreditava passa a acreditar sem ver e age de acordo. E, claro, conforme suas
ações seus organismo responderá com as reações correspondentes. Dessa forma,
não é raro, portanto, encontrar “ex-ateus”, reformados pela dor e pela
necessidade atendidas por seu Deus, o mesmo Deus que anteriormente sequer
existia.
Outro motivo
para alterações nos credos das pessoas são as intentonas proféticas. Onde, em
geral, o profeta em voga anuncia o fim dos tempos. Nessas ocasiões os
descrentes costumam assumir a religião ou o credo do profeta da ocasião.
Porém, para os
que creem há alguns comportamentos inerentes e indissociáveis ao credo. Quem crê
em Deus, como parte de uma religião, seita ou culto, tem de levar o pacote
todo.
Assim, de
tempos em tempos, talvez para regular o estoque ($) da fé, ou qualquer outra
razão sem fundamento lógico que queiram apresentar, surgem profetas e/ou
profecias sobre o fim do mundo. Todas elas, claro, baseadas apenas na fé dos
crentes nas palavras dos seus profetas. E o resultado disso é sempre trágico. Como
todo cometimento ousado, os profetas têm em suas profecias alguns fatores de
risco. O principal deles, o de a profecia não se realizar.
Porém, para
isso, eles sempre terão uma explicação simples e tão vaga quanto os fundamentos
de sua própria capacidade de profetizar. Geralmente atribuem a não realização
da profecia à bondade divina que concedeu aos homens mais uma chance.
Ora, penso eu,
se era pra conceder mais uma chance, então para quê criar pânico? Bastaria
deixar tudo como está e resolver o caso do jeito tradicional, ou seja, cada um
que se explique por seus atos na hora marcada. Esse negócio de julgamento
coletivo pode ser perigoso, sabe. Quero dizer, sempre se pode trocar uma
sentença aqui outra acolá, enfim, a fórmula tradicional funciona, para que
mudar, não é? E depois, esses profetas que me perdoem, mas Deus tem todo o
tempo o tempo todo. Não precisa apressar nada. Para Ele tanto faz julgar um por
um ou todos num grande pacotão promocional. Então, sugiro, deixemos como está,
e proponho até uma campanha cujo slogan pode ser este: Deus, o fim do mundo
individual é muito mais racional!
Para concluir,
recomendo aos descrentes que repensem suas posições. Não devido a aflições
reais ou proféticas, mas simplesmente por que, como disse Voltaire "O
mundo me intriga, e não posso imaginar que este relógio exista e não haja
relojoeiro".
Finalmente,
infelizmente, não se pode convencer aos fiéis fanáticos que foram ludibriados,
que gastaram o que não tinham para prevenir o que, se realmente viesse a
acontecer, seria tão inevitável quanto o que há de vir (que é o fim do mundo de
cada um, “na hora de nossa morte amém”), de que estão cegos à razão. Mas se
pudesse trazê-los, mesmo que por alguns instantes à luz da racionalidade certamente
lhes diria: Bem, queridos, nem tanto ao céu que vossas asas se queimem ao sol,
nem tanto às águas, que as vagas da incerteza vos abatam num repente.
Moderação, reflexão e ponderação, meus caros, nunca fizeram mal a ninguém. Nem
a Deus.
Cezar Lopes.
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