Retrospectiva de um acamado

Sempre acreditei que besteira era uma bobagem. Ora bolas, todo mundo tem o direito de ser idiota de vez em quando. Porém, ultimamente o festival está a cada dia com mais participantes.
Em casa, acamado, só me restou a leitura e o rádio. Todos saíram o que permitiu que minha atenção fosse redobrada. Agora, algumas coisas sem nexo colhidas nesse período.
No sorteio da mega-sena o locutor apresenta dois representantes do povo e uma auditora do governo federal. Exibe a nova máquina de sortear bolas e finalmente procede ao sorteio. Depois, dirige-se aos representantes do povo e pergunta se eles confirmam o resultado. Os dois confirmam e eu fico pensando. Qual a competência daqueles dois cidadãos para avaliar a lisura de um sorteio realizado por uma máquina cujo funcionamento eles, sequer, compreendem? E se um deles resolvesse chutar o pau da barraca e dizer, não confirmo? Pronto estava armado o circo. E Poderia, afinal, com a mesma impropriedade com que ele avaliza o que não conhece, poderia desautorizar o sorteio. Já pensaram no silêncio que se seguiria às suas palavras e à próxima pergunta do apresentador? Que seria, obviamente, por quê? E a resposta poderia ser um evasivo: caiu um cisco no meu olho na ora do sorteio da primeira bola e eu não vi acontecer... Pronto. Teriam de proceder a um novo sorteio. Imaginem a alegria dos ganhadores atuais?
Nos noticiários uma repórter apresenta as manchetes dos jornais no dia seguinte e trata da morte de um bebê com a mesma simpatia e jovialidade com que fala, logo depois, de uma final de torneio de tênis.
A seguir o jornalista retorna para afirmar pela enésima vez que “aqui se faz jornalismo de verdade”. Pronto. De novo, lá vamos nós. Quer dizer que nas outras emissoras é de mentira o jornalismo? Seguem-se as manchetes. 77 mortos no feriado... E vai esmiuçando, eu já posso ver as tripas dos finados e me volta à memória aquela expressão: “aqui se faz jornalismo de verdade”. Nessas alturas eu já reflito que a profissão de jornalista não carece mesmo de diploma universitário, afinal de contas, se apresentas tragédias e explorar-lhes até a última gota de sangue é jornalismo de verdade, bem, tenho meia dúzia de vizinhas que ganhariam o premio Ari de jornalismo investigativo todos os anos. E olha que sequer concluíram o primário. Então, pra que diploma, se isso é jornalismo de verdade?
Finalmente, mas não menos importante uma daquelas perguntas sem sentido que no final sempre provocam meu senso de humor sarcástico de qualquer forma.
Estou no meu último dia de trabalho antes desse feriadão forçado às margens da paralisia quando, um pintor para entrar na empresa aperta o interfone e a recepcionista lhe retribui apertando o botão que abre o portão. Não satisfeito, ele pergunta à moçoila: é para empurrar? Não senhor, é só puxar o muro que o portão abre!
Feliz 2010 meus insólitos e bravos leitores.
Cezar Lopes.

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