É feio, mas, é o que é

Antes de qualquer coisa devo deixar dito que não faço apologia a qualquer forma de violência. Apenas descrevo, sob o meu ponto de vista, os resultados do comportamento de uma nação e de seus líderes para com o seu povo.
Na condição de brasileiro, com ou sem cérebro (pois, de acordo com a justiça brasileira, acéfalos, também têm direito à vida... isso é uma piada de muito mau gosto, mas, não de menor mau gosto que os comentários de alguns representantes da imprensa sobre outro caso em que uma criança vai ultrapassando semanas e mais semanas mantida “viva” por aparelhos... seria sarcasmo? não, sarcástico sou eu, parece-me, sim, uma espécie de culto macabro onde a criatura brinca de criador e vai fazendo experiências, por falta de outra espécie ou por prazer, com a vida de seus semelhantes... deixemos de lado a verborréia da mídia e nos atenhamos apenas à ciência e pronto: um corpo sem cérebro não pode ser considerado um ser humano vivo pela mesma razão que a morte cerebral é o parâmetro universal utilizado para se decretar a morte de um indivíduo) escrevo.
Deixo claro, eu já sei que ninguém quer ferir os sentimentos daquela senhora gorda e dizer-lhe que vestido de listras verticais a deixam parecida com um bujãozinho de gás de desenho animado. Eu sei. Todavia, convenhamos, nossa situação político-social é uma aberração sem forma e sem jeito.
Diariamente abro os jornais e leio sobre crianças mortas por balas perdidas ou sobre adolescentes assassinados por vingança ou revanche ou... Mas o que é isso! Nosso povo sente mais insegurança para transitar nas ruas do que o povo iraquiano! E tenho más notícias para vocês: vai piorar. Vai sim. Mas, as boas notícias, depois melhora.
Vejam, os criminosos começaram a matar as crianças da classe média. Quando a classe média perder sua cria em proporções semelhantes às dos miseráveis, e quando a classe mais rica e a classe política forem atingidas em suas proles pelo descaso dos governantes dessa nação para com a origem da miséria no país, aí sim e somente então, vocês verão que todos esses pruridos desde há muito percebidos pela maioria de nós hão de se manifestar e aqueles pudores infanticidas dos nossos mandatários em desenvolver programas de controle da natalidade onde um casal que vive de renda mínima não possa ter mais do que, digamos, dois filhos (depois disso é castração pelo bem da espécie!) sairão do discurso e do papel.
Tenho certeza de que esses dois filhos seriam mais bem cuidados e valeriam mais para esse casal do que aquela escadinha indecente de miseráveis inatingíveis para qualquer programa de assistência social.
Vergonha para uma nação não é ter pobre. Vergonha mesmo é sustentá-los e incentivá-los a reproduzir sua miséria, legando-a a um futuro roto de miseráveis sem pão, sem chão, sem voz e sem vez. Se estivesse nessas condições eu também apanharia uma arma e mataria alguém, sem quaisquer pudores, por muitas razões e por um único desvalor: o total desapego à vida que em nada se parece com aquela vida que todos aqueles que podem ler este artigo conhecem. Acreditem, já fui assistente de direção da FASE-RS, conheço de perto in loco a matéria.
Mas, como disse, essas medidas de saneamento social e mais a sempre ditada e velha conhecida necessidade de uma política de qualificação da educação pública acontecerão, somente, quando aqueles que, ainda hoje, apenas assistem a essas tragédias pelos noticiários e as discutem entre seus amigos começarem a sentir na própria carne o que nós, mortais comuns, desde há muito, sentimos afinal, “só ri de uma cicatriz quem nunca se feriu”.
Oxalá esse tempo de dor e sofrimento seja abreviado. Até lá, protejam-se, pois, nesse país, onde a cultura não é um direito social, mas, simplesmente, um evento social, aqui, onde a educação é uma piada e a vida humana vale apenas uma bala, estamos sós, entregues à nossa sorte, para a vida ou para a morte.

Cezar Lopes.

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