Contos que a maçonaria conta, em silêncio, a quem parar para ouvir

Eis um conto que eu conto e depois “disconto” para o deleite dos incautos e para a ciência dos providos.
Reuniram-se em assembléia de mestres, na Indonésia, um grupo de homens dispostos a esclarecer certos fatos que causavam transtorno e desequilíbrio entre eles.
Livres, coerentes, acreditavam-se capazes de corrigir as diferenças existentes entre si sem demora.
Contudo, na medida em que o tempo passava as discussões apenas se acaloravam. Quanto mais discutiam tentando encontrar uma igualdade plena de idéias e de ideais, mais se reconheciam distantes, verdadeiramente, uns dos outros.
Logicamente em certos aspectos alguns convergiam e até se encontravam quase que completamente iguais, dede que não discutissem os detalhes, os meandros de seus conceitos pré-estabelecidos acerca das suas metas enquanto grupo.
Logo surgiram facções que, ainda que não manifestamente, defendiam tão fervorosamente suas idéias de grupo que chegavam mesmo a excluir, em seus discursos, os membros dos outros grupos “a bem da ordem”, diziam.
A noite adiantava-se célere quando um velho mestre que era tido por todos como o próximo “funerável” pediu a palavra. Muito pelo fato de ser ele o mais velho do grupo, muito pelo fato de que, socialmente, não fica bem desrespeitar a primazia dos anciãos e um pouco por que sua sabedoria era realmente respeitada, todos os demais mestres fizeram um silêncio sepulcral para ouvir as seguintes palavras:
- Ouvindo-vos, e observando-vos, meus irmãos, lembrei-me das peneiras de Sócrates e de Narciso. Então, antes que grandes males venham a assolar irremediavelmente esta irmandade prestai atenção ao sentido do que tenho a lhes dizer.
Nenhum de nós é igual a ninguém mais. Alguns se aproximam tanto, se olharmos de forma mais geral, uns dos outros que podem até conviver pacificamente e dizer “somos iguais”. Mas não são. Se fosse matemático diria que quando alguém é 70% parecido com outra pessoa uma verdade ou um lamentável equivoco pode surgir desse entendimento de igualdade que termina, assim, por gerar grupos fratricidas. Pois, ou é verdade que 70% de alguém faz do outro igual ou é uma questão de tempo para que, depois da exclusão dos “diferentes” novas divergências comecem a surgir e novos grupos mais “depurados” venham a se formar. Todos aqui conhecem as conseqüências funestas da purificação ariana promovidas na Alemanha há poucas décadas.
Meus irmãos, vós tendes mais a caminhar do que este velho que há de descansar em breve, todavia, pelo tamanho afeto que lhes tenho e pela responsabilidade que os verões amealharam sobre esta velha carcaça sou chamado e não posso esquivar-me do mister de vos esclarecer sobre isso: Quando um irmão diz somos iguais e diferentes dos diferentes é importante ter presente que ser 70% igual é igual a ser uma cópia barata de um Picasso. Tem tudo para ser verdadeiro, mas falta-lhe a alma do artista, e esse “animus” distinto servirá para que, mais tarde, essa pretensa igualdade seja desmascarada e temida gerando novas discussões sobre qual é o melhor e o mais justo, mas, o justo e perfeito que o Supremo Criador nos deu, meus irmãos, são justamente as nossas diferenças. Não somos iguais e não seremos jamais. Apenas nos reuniremos em prol de causas comuns. Mesmo os nossos valores e as nossas crenças, ainda que iguais, diferem em forma e intensidade. Todos cremos em Deus. Mas alguns aqui presentes se voltam para Meca outros para Cristo e alguns ainda para Jeová. Quem tem a verdadeira verdade? O grupo maior? E quanto à forma de praticar suas crenças? Outra divisão? Não! Meus irmãos. Guardai-vos de discutir estas coisas e afastai-vos da soberba vontade de julgar. Deixemos estes encargos Àquele que nos criou e cuidemos, sim, e apenas, para que as nossas infindáveis diferenças e nossas tão parcas semelhanças não nos tornem arrogantes a ponto de galgarmos por conta própria o calvário da nossa ruína. Sejamos, pois, iguais naquilo que nos une, no amor à Verdade, à Bondade e à Necessidade, e cuidemos sempre, para que não nos apaixonemos pelo espelho, pois que, o melhor deles é um mero reflexo distorcido daquele que nele se mira.
Findava a noite quando voltaram todos aos seus lares. Não resolveram suas diferenças como imaginavam, mas, a bem da verdade, saíram, todos, justificados.
Isso aconteceu há alguns anos e pouco depois dessa reunião, o velho mestre confessou, quando perguntado por este escriba, em seu leito de morte: “este funerável aqui tem consciência de que naquela noite muitos saíram dali sem entender nada do que lhes disse, mas, deu certo, não?”. E num instante, sereno e singelo com a aurora de um dia eterno, sua alma alçou vôo para outras estâncias, donde há de ter notícias e se congratular com outros que, antes dele, prepararam-lhe o caminho, como fez ele por mim, e por vós.

Cezar Lopes.

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