A Solução Definitiva
Finalmente, depois de décadas de
reflexão, o grande Kzar encontrou a solução definitiva para a violência no
mundo. Qual é Kzar?
- Castrar o pobre já na sala de
parto!
- Como?
- Eu explico.
Todos sabem que a violência só
existe onde há pobres. Veja os criminosos. Todos são pobres. Alguns dirão que
não e citarão casos em que jovens ricos se matam ou atropelam pessoas nas ruas.
Em primeiro lugar, atropelam
pobres. Se não fossem pobres não estariam nas paradas de ônibus às 5h da manhã.
Ou você já viu algum rico pegando ônibus de madrugada para ir trabalhar? Vê,
até nisso os pobres atrapalham.
Em segundo lugar, ricos não são
violentos, têm transtornos de personalidade ou surtos psicóticos. Duvida?
Pergunte a qualquer bom advogado – ricos têm bons advogados, pobres não.
Pois bem, voltando à solução
perfeita para o fim da violência. Ora, tomando por base o fato de que só há
violência na sociedade por que existem os pobres, conforme já foi esclarecido
acima, e levando-se em conta que as soluções outras apresentadas – taxação das
grandes fortunas, retorno completo do que é arrecadado com impostos em forma de
serviços de qualidade por parte do estado, para citar algumas propostas antigas
– geram desconforto em ricos, ricaços, milionários, remediados e classe
política em geral (a choradeira diante dos projetos anteriormente citados é de
doer o coração) a resposta é clara: Eliminar os pobres, pois, como foi
amplamente demonstrado previamente, eliminando os pobres eliminamos a
violência.
- Hum... Radical.
- Mas indolor...
- E se eliminarmos os pobres,
quem vai trabalhar e produzir riquezas?
- Riqueza para quem? Se fosse
para eles não seriam pobres. Se essa gente é pobre isso se dá por que produzem
riquezas e o excedente dessa produção não lhes é revertido. Então, que sentido
tem isso de produzir riquezas? Para quem?
- Bah... Bem... Para o país...
- O país é, por definição, entre
outras coisas, o conjunto do seu povo. Se nesse conjunto introduzirmos os
pobres (miseráveis são bem-vindos) e, considerando que o país não é socialista,
levarmos também em conta que, segundo nos ensinaram, não há riqueza para todos,
então os pobres não podem ser considerados membros do povo do país. Na verdade,
constituem um estorvo para a pujança nacional. Atrapalham a vista nas praias,
por exemplo. Emporcalham todos os lugares com sua presença. Não, a menos que se
divida o país entre um país de ricos e outro de pobres - então não seria o
mesmo país -, os pobres só servem para produzir violência e criminalidade,
justamente o que queremos eliminar. Portanto, a fórmula perfeita é essa: nasceu
pobre, castra!
- Mas você não respondeu a minha
pergunta! Quem vai produzir riqueza?
- Claro que respondi. Você é que
não prestou atenção. Detalhar-lhe-ei. As riquezas de um país pertencem ao seu
povo. Se o país é rico o povo tem de ser rico. Quem não for rico é pobre e
sendo assim, está automaticamente excluído do país. Logo, quem sobrou no país?
Os ricos. Quem, então, produzirá riquezas? Os ricos, ora!
- Tenho a impressão de que não
vai funcionar.
- Por que não?
- Ora Kzar! Onde já se viu operários
ricos, ou ricos operários? Não dá para ser os dois ao mesmo tempo!
- Bem, aí, neste caso, sempre
resta a escravidão.
- Mas... O quê? Escravidão? Tá
maluco?
- De jeito nenhum. Dê uma olhada
na História. Escravos são dóceis, disciplinados e o mais importante, não têm
liberdade. Ora, sem liberdade não podem escolher sequer se vão fazer sexo, com
quem ou quando. Seus filhos são escravos já desde o nascimento. Veja que eu
disse escravos, não pobres.
Diferente dos pobres os escravos
têm donos e esses donos têm obrigações para com eles. Dessa forma não passam
necessidades e compartilham das riquezas dos seus donos. Escravo não vai para
as ruas pedir esmolas, dormir sob viadutos e marquises, consequentemente, não
produz violência – que é coisa de pobre – e também não emporcalha a vista da
sociedade ordeira, e rica. Quer sociedade melhor?
- Você acredita mesmo nisso Kzar?
- Eu não. Mas, pergunte em
segredo aos donos do país depois de alguns tragos de Bourbon e você vai descobrir
que lá no seu âmago acreditam que um pouquinho de escravidão não faz mal a
ninguém. E se não for o bastante, dê uma volta no interior do país em fazendas,
serrarias e outras empresas de gêneros primários e você terá uma real dimensão
da profundidade da toca do coelho.
- Arrepiei.
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