Lunariazação da água

                 O ser humano, ao longo de sua existência histórica, tem procurado se autoafirmar de diversas formas, seja pela construção de sociedades baseadas em regras de conduta comumente aceitas e praticadas voluntariamente por todos os cidadãos, seja por sociedades baseadas em um estado coercitivo, que se impõe pela força.

                No entanto, de todos os aspectos humanos um dos que mais me diverte é a busca de explicações metafísicas para situações absolutamente simples do cotidiano, assim como receitas místicas de saúde e prosperidade.

                Vá lá que um galho de arruda não faça mal a ninguém, assim como a tradicional ferradura, desde que, claro, não seja arremessada em seu desafeto mais próximo. Agora, em alguns casos há um extrapolar completo não apenas do bom senso, mas da própria racionalidade.

                Uma amiga minha esteve me visitando e trouxe este primor: a solarização da água. O que consiste em encher uma jarra com água e deixá-la exposta ao Sol para que esta absorva algum tipo de energia que é benéfica para os seres humanos.

Não resisti.

Após ouvir a história com respeitosa atenção pedi licença e me retirei para realizar meu próprio retiro espiritual e buscar aconselhamento com o meu Baba, o qual me esclareceu que a solarização da água já não é mais recomendada em função do enfraquecimento do organismo humano pelo excesso de consumo de alimentos industrializados e com baixo teor nutritivo.

Assim sendo, meu guia me orientou a praticar a lunarização da água, que consiste na energização da água pelos raios do sol, porém, refletidos pela lua, de forma que esta energização seja mais branda, mais adequada, portanto, para nossos corpos cada vez mais frágeis.

Quando saí do meu retiro e me dirigi à minha amiga para apresentar-lhe a novidade, porém, ela já estava em outra área do conhecimento oculto-abstrato-exotérico, ela estava lendo seu mapa astral, ou coisa que o valha.

Devo acrescentar, a estas alturas que minha amiga não tem uma religião definida, pois ela acredita em um pouco de cada uma e em nenhuma completamente.

Diria mais, ela mesma poderia fundar sua própria religião, a qual seria, a meu ver, tão confusa em sua teologia que em semanas alcançaria bilhões de adeptos mundo afora, tenho certeza.

Pois bem, como dizia minha amiga já estava no mapa astral então preferi deixar de lado as explicações do meu Baba e simplesmente me contentar em saber que o Sol estava na casa 11, o que alegrou muito, pois não gosto de calor e se o sol está na casa 11 isso significa que demorará ainda um pouco para chegar até a minha que é a 174. Assim, com esse regalo exotérico, voltei ao meu merecido descanso semanal, enquanto deixava minha cabeça devanear ouvindo as ideias nada convencionais de uma amiga tão querida.

 

Cezar Lopes.