O malandro e o xampu ou dura lex sed lex

O processo corria célere. Nem querelante nem querelado tinham mais quaisquer dúvidas sobre o resultado.

João da Silva, profissão, malandro, ocupação, batedor de carteira, natural não se sabe de onde, achou uma mina de ouro num processo.

Processou uma empresa fabricante de um dos xampus mais famosos da pátria por propaganda enganosa. Requerendo indenização por danos materiais e morais pelo constrangimento a que fora submetido ao adquirir “uma unidade do produto em tela na qual se lia em letras miúdas: cabelos com um brilho estonteante.”

Ora, ocorre que João da Silva acreditou piamente no que anunciava a embalagem do produto. Mas as coisas não saíram exatamente conforme prometia o reclame. Claro que o cabelo do João também não era lá essas coisas, mas um brilho estonteante não se viu nem de longe e muito menos de perto.

No começo ele pensou que deveria repetir a dose mais algumas vezes, mas mesmo após lançar mão de todo o conteúdo, nada de “brilho estonteante”.

E foi essa a motivação para o processo que agora se encontrava em 2º instância. Em primeira instância ele teve seu pedido deferido e no total o fabricante foi condenado a ressarci-lo em mais de cinco mil reais. Mas a empresa recorreu da decisão, embora estivesse preparada para outra derrota quando então, cessariam os recursos por ordem direta da direção do grupo.

Mas, justamente num dos últimos embates no tribunal, nunca saberemos o porquê, um dos advogados que representava o grupo (calvo, embora não se saiba qual a relação dessa informação com o devido andamento do processo ou com seus desdobramentos) questionou, quase sem intenção, o que movia João ao busca “um brilho estonteante” para sua guedelha.

- O motivo? Bão, eu to ficando veio. Depois de um tempo fica difícil de ganhá a vida, então, quando vi a propaganda no xampu eu pensei, com isso vai ficar mais fácil de batê cartera por que o sujeito me vê chegando e antes que possa fugi eu tiro o boné, o mané fica estonteado com o brilho do meu cabelo e quando se dá conta eu até já fui embora. Serviço limpo e seguro pra todo mundo.

Essa declaração foi bombástica. A vitória se transformou em derrota naquele momento e outro processo era movido agora contra João da Silva. Processo crime que o acusava dentre outras coisas, de formação de quadrilha e neste eram citados, inclusive o advogado da parte e o próprio juiz de primeira instância.

Foi a última vez que se viu João da Silva. Uns dizem que foi morar na selva, outros que fugiu para o Paraguai, mas ninguém tem certeza pois quem diz não sabe e quem sabe não diz.

O xampu? Continua no mercado com o mesmo slogan. O juiz acusado é visto com relativa frequencia vendendo picolé na praia de Copacabana, para turistas, claro, pois, como se sabe, carioca não vai à praia com dinheiro e se vai não entra no mar por nada nesse mundo. Parece que Netuno afana suas economias enquanto estão se refrescando, mas disso, também não se tem confirmação afinal, nunca ninguém viu Netuno nas praias do Rio. Já os do tipo do João da Silva têm de monte, mas aí esses são outros unos e essa, é outra história.

Cezar Lopes.

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