Viver








Ele não acreditava em coisas novas. Para falar a verdade, não acreditava, sequer, em coisas velhas.

Sua crença se resumia em sua capacidade, no dia-a-dia (ainda se separa assim?), em solucionar problemas.

Foi quando apareceu Estela. Meiga, doce, sinuosa, diferente de tudo o que conhecia.

Até então, seu mundo se resumia em bit's e flag's. Tudo muito simples. Matemática binária onde um mais um não dá dois, mas zero. Loucura, mas loucura real. Fácil de decodificar, fácil de entender.


Contudo, surgira Estela. Que lhe mostrou a vida de uma forma diferente. Não de uma forma mágica, mas de uma forma diferente. Ali, ele tinha o controle da situação, não seu pai, nem sua mãe. E ele gostou disso.

Com o decorrer dos dias sua vida foi se modificando. Não por que ele quisesse, mas por que ele precisava. Precisava se libertar, ainda que jamais pudesse admitir, ainda que jamais pudesse dizer francamente. Não tinha essa índole. Não ofenderia àqueles que lhe ofereceram tudo. Mas não poderia mais suportar a dor, a dor de ser, simplesmente, aquilo que esperavam dele e nada mais.




Ele conheceu a liberdade e, com ela, a responsabilidade. Responsabilidade que seu pai tanto lhe demonstrou. Mas ele não estava pronto, pois, assim como os motivos precisam de um argumento que os justifique, também os jovens precisam de uma razão que os facilite ser o que são... jovens, acima de tudo.


Viver é sofrer, intensamente, a eterna mudança. Caso contrário, não é viver. mas, simplesmente, existir, à sombra de um deus que, apesar de sábio, é apenas um deus pois que, um dia, vai embora, igual a todos os deuses.

 
Afinal, quem foi que disse que seria fácil?

Que eu saiba ninguém, ou mentiram para mim?

O que disseram a mim, se bem me lembro, é que viver seria uma grande aventura, da qual nenhum de nós, nenhum, sairá vivo. E quem discordar, pois bem, que prove o contrário.

Escritor - Cezar Lopes.

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