Os fios mágicos - 1ª parte

Quando o avô do André estendeu o pano de pratos para secar ele fez uma curva e voou alguns metros até repousar sobre a grama.

Percebendo que o menino ria às gargalhadas seu avô riu também, depois puxou um banco e chamou-o para o seu colo.

- Muito bem guri, já é chegada a hora de você conhecer mais um dos meus segredos.

O menino, sentado no colo do avô olhou-o muito sério, pois sabia que seu avô sempre lhe fazia grandes revelações nesses momentos.

- Pois bem, começou o velho, tudo começa no tempo em que os homens viviam em harmonia com os Elfos...

Naquele tempo os homens precisavam aprender a conviver, ou seja, a viver em grupo. Essa era a tarefa de todas as criaturas mágicas que existiam e ainda existem, embora já não tenham interesse em se relacionar com os homens. É que o homem ficou poderoso demais, inteligente demais e dessa forma, deixou de enxergar a beleza e a magia da simplicidade, guri.

Um dos sonhos mais antigos dos homens sempre foi o de voar. Você, certamente, já sonhou que estava voando, leve, solto, não é? Pois com os primeiros homens não foi diferente. Mas, voar como, se o homem não tem asas? Os Elfos sabiam como.

Foi o rei Hamur, o puro, quem recebeu dos Elfos um tecido mágico, com o qual foi instruído a fazer mil e um tapetes. Um para cada rei de cada reino que existia naquela época. Esses eram autênticos tapetes voadores, daqueles que você já ouviu falar nas histórias que vêm do Oriente.

Mas, infelizmente, outro rei, o rei Serguei Muck, das terras do norte, teve a idéia de surrupiar todos os tapetes e com eles equipar seu exército para, assim, atacar e destruir todos os demais reinos, criando o Império Gorgiano. Contudo, nada passava desapercebido aos Elfos que, depois de instruírem o mago Merlim, o verdadeiro, não aquele do Rei Artur, se encarregaram de recolher todos os tapetes mágicos. Merlim recebeu a incumbência de guardar consigo os tapetes, até que o coração dos homens se tornasse menos belicoso. Até que sua ciência lhe mostrasse de verdade o quão sensível é o equilíbrio da vida em nosso planeta.

O tempo então foi passando e Merlim percebeu que a cada nova geração, mais perigoso se tornava manter consigo os tapetes. Mas os Elfos já não estavam mais por aqui e o mago estava muito velho. Ele sabia que não viveria por mais muito tempo. Então, com a ajuda de um tecelão, desfiou todos os tapetes e misturou os fios do tecido mágico com seda, linho e algodão, e enviou esses fios para todas as tribos da terra, de forma que eles nunca mais se encontrassem para ameaçar a vida dos povos.

Aconteceu, todavia, que o tecelão que o ajudou, de nome Ohmel, o falador, não se conteve e espalhou a notícia no seu povoado que, em seguida se espalhou por todas as gentes. Mas nem ele poderia contar o que não sabia, ou seja, onde, de fato, se poderia encontrar esses fios, já que, como disse, eles estavam misturados com muitos outros que eram simplesmente, fios comuns. O que ele sabia, entretanto, que Merlim lhe havia confidenciado é que, diferente dos fios comuns, esses eram indestrutíveis e ficariam circulando pela Terra até que o homem fosse digno de tê-los reunidos em tapetes mágicos novamente.

Por isso, guri, quando você vir alguma roupa, um pano de prato ou mesmo um pé de meia saltar, de repente, dalgum varal sem qualquer vento ou brisa pode ter certeza, ali está um pedacinho de fio daqueles mil e um tapetes mágicos. E não se assuste caso, subitamente, ele desapareça. É que ainda hoje homens percorrem o mundo todo em busca desse tecido, mas, responda você, guri, será que já é tempo de reuni-los novamente?

Cezar Lopes.

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