A panela de pressão pressionando, as crianças querendo atenção, a torneira pinga-pingando e Maria, pia, pilotando o fogão. Há quem diga que foi sempre assim. Maria é piedade e redenção. Maria é amor de mãe. Maria é toda, todinha, coração. Certo? Não. Maria era uma menina fagueira, faceira, brincando de roda, pulando amarelinha, iluminando a criação. Então, de repente, começou a crescer. Deixou de lado as bonecas, e descobriu o amor. A mãe, outra Maria, pia, ficou consternada, mas o que se há de fazer. Um dia aconteceria. Antes dos dezoito Maria estava grávida e o casamento foi apressado. Depois do primeiro veio o segundo e o brilho do olhar de Maria tornou-se, gradativamente, baço. Finalmente, depois de tantas decepções que os primeiros amores trazer de roldão, perdida e sem mais qualquer ambição, Maria tornou-se a Maria, pia, suportando, despretensiosa, a panela de pressão. Cezar Lopes.